sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A Árvore da Vida - uma nova odisseia


Nunca fiquei tão ansioso em procurar entender um filme, como fiquei depois que assistir A Árvore da Vida. Nos últimos dois dias, esse filme invadiu constantemente meus pensamentos - era eu procurando respostas para o que eu vi na tela. Na verdade, essa inquietação em tentar achar uma lógica para o filme me fez entende-lo da minha maneira - mesmo que eu não tenha encontrado todas as respostas, ou que as respostas que eu consegui sejam  apenas as minhas, e não as suas ou de qualquer outra pessoa que já passou pela experiência de ver este filme. O filme trata da vida... da existência... do mistério da criação... do divino e do espiritual, e nada disso pode ser explicado - são muitas perguntas e poucas respostas. Essa é a "graça" do filme, essa é a "natureza" desta obra cinematográfica.
A Árvore da Vida estreou nos cinemas na sexta-feira passada. O novo filme, o sexto da carreira, do recluso Terrence Malick é uma obra cinematográfica, mas poderia ser uma tela de pintura - no fim é mesmo uma obra de arte para ser contemplada - a leitura do filme é individual, não há uma leitura única e fechada deste filme. A trama, desconectada de qualquer estrutura linear, leva o espectador a vivenciar a experiência de uma jornada - a jornada de uma família comum que vive nos anos 50 nos EUA, mas que poderia ser a do próprio espectador em qualquer época, e uma outra ainda mais complexa, a da criação de todo o universo e todo o caminho da existência humana.
O filme começa mostrando a dor de um casal que perde um de seus 3 filhos. O filme, a partir daí, começa a costurar cenas da vida desta família nos anos 50, anterior a morte deste filho, passando por sequências do surgimento da vida na terra e pulos para o futuro, que nos levam para conhecer a vida do filho mais velho, Jack (Sean Penn), que já é adulto e afastado dos pais. Desde o começo, o filme já mostra que, através das palavras da mãe, os filhos têm que escolher um dos dois caminhos possíveis para seguir na vida: o caminho da natureza - o evolucionista, o racional, aquele desligado das crenças, ou o caminho da graça, onde o amor é o mais importante - o que poderia ser entendido como a fé. Neste contexto, começamos a rever, pelas lembranças de Jack (adulto), as passagens que acabaram por criar a personalidade daquele homem frio e distante da família. Assistimos ao seu estado de abandono, sua solidão e vemos sua tristeza pela morte recente do irmão... nesse momento o questionamento do sentido da vida é muito forte e percebemos sua total fragilidade. Vemos através das memórias, em cenas belíssimas, o amor celestial de sua mãe, as brincadeiras com os irmãos e o desconforto pela rigidez com que o pai tratava a todos. nesses fragmentos, é fácil perceber que o diretor tenta fazer com que cada espectador reviva também alguma memória sua. Em uma visão mais intima minha, eu vejo a história se desenvolver em um triângulo. O pai, o Filho e a Graça/Amor ou, para fechar a visão não evolucionista, O Espírito Santo. A mãe é então o Espírito Santo, é o amor puro, ela parece um anjo de tão iluminada e de tanto amor que tem pelos filhos, ela está em perfeita sintonia com a natureza e só pensa na família. Já o pai, que no filme é um inventor, é aquele que cria, é também o que dá as regras a serem seguidas na casa, de tão duro, ele sequer deixa os filhos chama-lo de papai - ele exige ser chamado de Pai - ficando claro para mim que ele e a representação de Deus e sua casa é a nossa casa - o nosso mundo. Já o Jack seria a representação de todos nós - ele é o questionador, ele duvida do amor do pai e é capaz de sentir inveja até mesmo do irmão. ele é o Filho. Por essa minha análise, eu vejo o caminho da Graça como sendo o caminho do amor, mesmo que Deus seja questionado ou que sintamos ele ausente - Já, o caminho da natureza, eu vejo como aquele em que, mesmo conhecendo o amor, não conseguimos enxergar Deus - neste caso, o amor seria algo natural do ser humano, não havendo assim, nenhuma ação divina - o Divino neste caso, seria a própria natureza - ela seria nosso próprio Deus.
Eu não aconselho este filme para quem espera diversão - ele muito complexo e, dependendo da maneira que for encarado, pode ser visto como entediante ou cansativo - mesmo que o filme esteja longe disso. A trilha sonora dá ao filme toda a emoção de contemplação e inquietação que a trama precisa. A fotografia de Emmanuel Lubezki é fantástica. Os efeitos, supervisionados por Douglas Trumbull, o mesmo de 2001 - Uma Odisseia no Espaço, dão ao filme toda a força necessária para a narrativa. Se você conseguir se desconectar do mundo, e o melhor momento para isso é na sequência da criação do universo, que dura uns 20 minutos, este A Árvore da Vida vai mexer com você - a natureza humana e a vida serão questionadas - foi assim que aconteceu comigo. Já tenho um filme para torcer no Oscar. Um grande filme.

O Pai
O Filho
O Espírito Santo - a Graça
O Trailer do Filme

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